A vida pedindo pelas ruas constitui uma situação desumana e um risco para a sociedade, desde a disseminação de doenças até a violência.
Pelas vias que se pretende criar, estas pessoas vão passar inicialmente pela Central de Acolhimento. As que precisarem de pouso passam depois pela triagem do albergue municipal.
O desejável é que, a partir da orientação e do esforço motivacional que será empreendido entre os atendidos, estas pessoas se encaminhem para um processo de superação das próprias carências. Muitas vão ser encaixadas em projetos promocionais/assistenciais integrados a esta proposta, que darão atendimento em seus domicílios, oferecendo cestas básicas, roupas e, obviamente, o apoio motivacional para as mudanças pessoais esperadas. Outras serão encaminhadas para programas assistenciais oficiais. Isso sem contar aquelas que serão orientadas e apoiadas para retornarem à respectiva origem, por não terem vínculos com a cidade.
Restam então os moradores de rua contumazes que têm ligações com a cidade.
O morador de rua muitas vezes é pessoa nascida na cidade, que tem até vínculos constituídos. Porém, em função da desagregação da família ou de algum tipo de rejeição(?), passa a morar nas ruas. Para eles, vai existir o Acampamento Solidário. Não é exatamente uma moradia, mas também não é um albergue. Seria uma casa provisória, por alguns dias ou semanas, ou um albergue mais extenso.
A idéia inicial é uma grande área aberta, fora da zona urbana. Lá será montada uma infraestrutura emergencial, com fossas sépticas, água distribuída em pequenas caixas, pontos de luz.
Várias barracas vão ser montadas para o acolhimento dessas pessoas. Daí o nome "acampamento". Nessas barracas vai ser possível tomar banho quente em um espaço de privacidade, onde haverá também um banheiro.
Haverá colchões, cobertores. O casal poderá permanecer numa mesma barraca. As barracas podem ser construídas a base de embalagens longa vida. Ou através de outra técnica barata, que garanta conforto e segurança aos ocupantes.
Pela manhã será oferecido um lanche e, numa lona maior, grupos interessados podem oferecer oportunidades de entretenimento e atividades diversas. Outros grupos podem orientar também no cultivo de hortas. E, um médico plantonista, com alguns enfermeiros, deve passar logo cedo por ali, principalmente para atendimento de alcoólatras e toxicômanos.
Este espaço deverá contar com a necessária segurança policial. A polícia - ou a guarda municipal - precisarão apoiar também no recolhimento dessas pessoas pelas ruas da cidade.
Possivelmente, a grande maioria deste público vai retornar durante o dia para as ruas. E esse transporte deve ser garantido a eles em alguns períodos. A rotina deles, possivelmente, só terá uma chance maior de mudar quando a sociedade decidir não doar mais nada para eles NA RUA, na abordagem direta. Espera-se também que os órgãos responsáveis pela segurança coíbam a abordagem que normalmente é feita em locais de estacionamento ("-posso olhar seu carro?"), em semáforos, constrangendo motoristas a pagarem por limpeza de parabrisas ou a comprarem coisas desnecessárias.
Quando isso parar de acontecer eles terão dois rumos previsíveis: ou vão despertar para a necessidade de mudanças pessoais ou vão ser engajados em algum programa assistencial oficial. Não ficarão mais pelas ruas se não houver retorno da população à abordagem direta. Embora, a partir do trabalho desta comunidade, espera-se que exista um suficiente retorno da população no atendimento das reais necessidades deles, através dos programas de atendimento.
Talvez esta seja a proposta com mais "senões" do ponto de vista jurídico. Do ponto de vista humanitário, pretende dar viabilidade a uma condição de mais conforto e segurança para quem passa a noite na rua, sob marquises, sob a chuva, no frio. E que, a despeito de todos esses riscos e desconforto, não aceita as condições dos albergues convencionais. Por motivos diversos, nem sempre conhecidos.
Espera-se que esta seja uma alternativa. Não apenas de abrigo. Mas de acolhimento, no sentido mais abrangente possível. Havendo sugestão melhor, que seja então implementada. Sempre lembrando que a lei deve ser cumprida. Mas que isso depende, também, de uma correta interpretação.
O Acampamento Solidário pretende estender um pouco, no tempo, a atitude de acolhimento diante de determinadas pessoas, expostas a situações de intensa rejeição(?). Este período deve ser tecnicamente estabelecido por profissionais da área de psicologia/psiquiatria, considerando as possibilidades orçamentárias e legais.