.potencial carente
.excluído e incluido
.empregacionalidade
.ações
Clique em um dos itens acima para navegar nas opções.
voltar
O CARENTE E O "POTENCIAL CARENTE"
No contexto desta proposta, no plano mais direto e objetivo, o carente vai ser identificado por ter limitações de consumo abaixo da linha das necessidades essenciais. Não tem os meios suficientes para manter condições dignas de moradia, ou de alimentação, ou vestuário, ou saúde, ou lazer ou outras necessidades básicas. Desta forma fica limitado em suas oportunidades de ascenção pessoal e social.
No entanto, ao longo do que se propõe aqui, vai ser possível perceber que a verdadeira carência que se pretende superar, está mais nas raízes destas condições, do que propriamente nos efeitos que elas produzem no panorama social.
Aqui a "carência" está sendo considerada uma espécie de limitação mais próxima do que parece.
É fácil encontrar famílias de classe média ou média alta, que consomem, convivem e habitam nos padrões admitidos de dignidade humana, e que têm um carente entre seus membros. Se não entre filhos ou irmãos, pelo menos até tios ou primos. No mínimo, um carente numa condição potencial.
A figura do "potencial carente" é caracterizada por aquele filho, por exemplo, que não se adapta a um emprego ou outra forma eficiente de suprimento das próprias necessidades. Não consegue disciplinar sua rotina pessoal de estudos, ou de aprimoramento técnico em habilidades artísticas, ou esportivas, ou qualquer outra ordem de atividade que aponte para seus anseios ou projetos pessoais. Mais claramente, sequer formula seus próprios projetos no nível necessário para o início de uma execução que alcance um resultado minimamente produtivo. Muitas vezes até trabalha, mas em condições especialmente propiciadas, como numa empresa familiar, desempenhando funções pouco complexas, que envolvam poucas responsabilidades.
Trata-se, portanto, de uma suficiência assistida que, nas da base da pirâmide social, não se sustentaria. Iria, possivelmente, se configurar mais um "carente" de fato.
Portanto, se a carência existe potencialmente até entre as famílias que dispõem de recursos, a razão da carência não deve estar na falta de dinheiro. Daí a necessidade de agir nas bases psicológicas e emocionais da carência para tentar superá-la.
topo
INCLUÍDO NO PROCESSO,
EXCLUÍDO DO PADRÃO DE CONSUMO
É oportuno citar também os casos de pessoas que alcançaram um nível completo de formação, se colocaram no mercado com sucesso durante algum tempo e depois, mesmo tendo a responsabilidade de chefiar famílias, se isolaram e não mantêm mais atividades regulares de trabalho. Em muitos casos essa situação não envolve nem alcoolismo nem drogadição.
Talvez isso evidencie a falta do que seria um modelo social sustentável. Parece que o "carente" está sendo produzido pelo atual modelo. Como conseqüência de um processo que gera, dentre outros, também este resultado (o carente) na ponta de saída. Nesta visão o termo "excluído" seria até contraditório. Pois o carente é antes uma presença endêmica, que faz parte, está incluída no processo, embora não seja claramente evidenciada entre os resultados. A condição de inclusão ou não no padrão mínimo de consumo é, prioritariamente, função direta da estrutura herdada no contexto familiar.
A chamada exclusão social, portanto, que se configura claramente nas classes sociais mais pobres, parece estar latente, potencialmente presente nas famílias de melhor padrão de consumo.
Um caminho da comprovação ou não desta hipótese pode estar na avaliação de contrates de renda entre gerações próximas de uma mesma família.
Nas experiências que estão por vir pretende-se também buscar o conhecimento prático, a resposta estrutural para atenuar progressivamente este efeito sobre todas as famílias. Um efeito que supera os esforços empreendidos mesmo em lares onde é evidente o empenho pelo equilíbro, pela cultura de valores, pelos laços de afetividade e respeito.
É bem provável que boa parte destas respostas já existam nos círculos de conhecimento. Que venham então as luzes! Para que a universalização do uso dos instrumentos de superação dessas dificuldades aconteça da forma mais ampla possível, talvez até através de novos sistemas de aplicação, mais baratos, em grupos.
As ações aqui propostas, enquanto contribuições, inclusive, para a busca de um modelo social sustentável, que não degenere tão facilmente, partem de um novo paradigma. Porque começam a observar a carência em suas raízes psicológicas, comportamentais e não simplesmente como falta de recursos. Neste sentido, uma das visões apresentadas envolve o conceito do que pode ser denominado por "empregacionalidade".
topo
EMPREGACIONALIDADE
Um termo muito usado nos dias de hoje é "empregabilidade". De acordo com a literatura rapidamente consultada(*), a palavra deriva do termo, em inglês, employability, e se refere a um conjunto de conhecimentos e habilidades que tornam uma pessoa potenciamente mais interessante para o mercado de trabalho. Portanto, maior "empregabilidade" significa maiores chances de conquistar um emprego. É uma forma de corresponder à visão e aos valores do mercado de trabalho. É como as empresas enxergam você diante da possibilidade de você passar a ser um empregado.
O que se pretende ao propor o conceito de "empregacionalidade" é focar parte da questão do emprego na forma como o trabalhador vê e avalia o mercado de trabalho. E como esta avaliação pessoal reflete na efetiva decisão de se posicionar diante desse mercado.
De certa forma a idéia de empregabilidade, no desdobramento de alguns autores, passa por esta questão. Mas não encontrei nada que fosse a fundo neste lado da situação, que pode ser relevante. Tanto no plano de cada trabalhador como para o mercado de trabalho como um todo.
"Empregacionalidade" se refere à preparação dos ânimos do trabalhador, não apenas do currículo dele.
A "empregacionalidade" vai medir então o grau de resistência tácita que o trabalhador apresenta diante da idéia de ingressar ou reingressar no mercado de trabalho, ou melhor, de se integrar ao contexto que caracteriza este mercado.
Não parece conveniente arriscar qualquer razão para explicar este tipo de comportamento. Se seria baixa auto estima, falta de perfil competitivo, .... Seja o que for está impedindo que muitas pessoas, muitos talentos produzam e se engajem socialmente. Que se desenvolvam e ofereçam mais ainda, que consumam melhor e se integrem ao ciclo econômico.
Pode parecer estranho que a resistência de alguém a um mercado de trabalho tão superativitário em oferta de mão de obra, deva ser tratada como preocupação deste mercado. Mas ao considerar que o atual modelo social pode estar produzindo condições geradoras de carentes (texto anterior), cabe admitir que a Sociedade tem por dever se encarregar dessa questão. Por outro lado, de uma forma mais pragmática, é claro que qualquer força de trabalho que seja recuperada e reintegrada, trará vantagens para o todo, independente de onde ou por onde seja resgatada.
Acerca da questão moral que se coloque, sobre a desejável responsabilidade que cabe a cada pessoa, de se engajar no serviço à Sociedade, é indispensável contrapor que ainda não se revelou um modelo ideal, ou sequer sustentável, de estruturação da Sociedade. Portanto, sinais de rejeição podem ser reações naturais. Que, talvez, possam apontar para as bases de reformas, de correções, no rumo do que se pretende como uma Sociedade melhor.
Este não pode ser mais um ônus jogado no colo do trabalhador, como se coubesse unicamente a ele a solução de uma questão que não pode ser vista apenas do plano pessoal, o mais evidente no caso. Não basta olhar para esses contingentes e apontar culpas. É importante considerar o potencial que eles representam numa Sociedade que investiu e espera a contrapartida de competências. E que está carente delas.
Ao propor a denominação "empregacionalidade", derivada do termo "empregacional" - que pode ser trocada por qualquer outra mais adequada - pretende-se estabelecer uma similaridade com o termo "educacional", que aponta para o setor onde a questão da empregacionalidade deve encontrar as reais soluções. A empregabilidade, ao meu ver, parece mais relacionada com a questão do "ensino", o que pode não ser exatamente a mesma coisa que educação.
(*) pesquisa google pela palavra "empregabilidade". Textos:-
"Empregabilidade ou loveability, Saúde Profissional ou Afetiva?"
L. A. Costacurta Junqueira
(Internativa) "O Mundo do Trabalho e a Empregabilidade"
Ângelo Peres
(Universia) "Empregabilidade"
Shirley Chuster Werdesheim
(Wikipédia, a enciclopédia livre)
"Empregabilidade"
topo
SOLUÇÕES EMPREGACIONAIS
Parece inconseqüente utilizar somente a medida de empregabilidade para tentar resolver questões ligadas ao desemprego, num contexto também de possíveis oscilações de empregacionalidade. A hipótese ora colocada é que, quando a empregacionalidade daquele trabalhador é baixa, ele não têm a verdadeira determinação de encontrar um emprego e nele se aplicar.
Portanto isso pode ser, em muitos casos, um dos fatores implícitos na baixa empregabilidade. Porque, por falta de motivação para se qualificar para o mercado (baixa empregacionalidade), o trabalhador acaba por manter sua empregabilidade também baixa.
As características específicas de "empregacionalidade", em suas várias gradações, possivelmente indicarão grupos típicos. Próximo ao limite mínimo, estariam aqueles que não procuram ou sequer aceitam empregos. Muitas vezes, um excesso de personalismo é a razão, pelo menos aparente.
Outros, com um pouco mais "empregacionalidade" até conseguem emprego, começam a trabalhar mas não avançam de acordo com o potencial que possuem. Se desentendem facilmente, enxergam sempre muitas falhas na empresa e nos colegas. Reclamam com freqüência, declaram desânimo diante da situação, não correspondem aos apêlos das reformas internas. Muitas vezes começam a faltar com os compromissos e, finalmente, se desligam ou são desligados do emprego. Entre esses níveis de empregacionalidade, outros podem ser detectados, com características peculiares.
Pela pressão social, da família ou da própria consciência, muitas dessas pessoas com baixa empregacionalidade enviam vários currículos, falam com amigos, fazem até alguns cursos, se informam e chegam a reconhecer, diante de seus grupos, a necessidade de conseguir um emprego. Mas, na prática, apresentam restrições aqui e acolá a esta ou aquela empresa, a determinada função onde seus conhecimentos pouco seriam aplicáveis, a ambientes sociais ou psicológicos, ao perfil mais presente entre as pessoas com quem vão se relacionar num local de trabalho. Têm dificuldade em aceitar a disciplina da vida de um empregado, ou os modelos de relacionamento no trato com superiores e colegas de trabalho. Não sustentam por muito tempo a perseverança em percorrer uma trajetória profissional, que começa na colocação disponível no momento, e segue em direção à posição desejada no mercado de trabalho. Têm, ainda, uma forte dificuldade para entender que, acima da inteligência, da formação e da capacidade que possuem, são aquelas dificuldades práticas que impedem, para eles, a assimilação por parte do mercado de trabalho e o desenvolvimento dentro dele. Por isso, mesmo com alta empregabilidade aparente em alguns aspectos, a baixa "empregacionalidade" estaria forçando a condição de desemprego.
A empregabilidade, pelo menos da forma como está desenhada para este País de Terceiro Mundo, parece trazer, implicitamente, restrições a muitos comportamentos típicos de mentes privilegiadas. Ou, pelo menos, não contempla qualidades de destaque dessas pessoas. A mão de obra é requisitada de forma mais enquadrada do que integrada, intensiva, rápida e descartável. E assim se vai todo um monumental investimento, tanto público como privado, no desenvolvimento de potenciais que não estão postos em pleno uso.
Embora não tenha conhecimento de uma pesquisa com dados confiáveis, não parece que os profissionais formados nas principais universidades brasileiras são os mais bem empregados. Muito menos os que revelaram melhor desempenho durante seus cursos nessas universidades. Exceção aos cursos ligados às áreas de Administração, Gestão, Comunicação e outros, onde a aplicação dos conhecimentos é mais direta no negócio, no interesse do empreendedor. Diferente do que acontece nas áreas, por exemplo, de tecnologia, onde é possível importar pacotes de conhecimento para serem simplesmente aplicados aqui.
Olhando sob alguns aspectos, no Brasil, os trabalhadores mais capacitados estariam se engajando no serviço público. Afinal, são os que enfrentam concursos disputadíssimos e comprovam vasto conhecimento. É possível que habilidades negociais e outros tantos valores indispensáveis na atividade privada - como a própria capacidade de enfrentar situações de risco - não sejam tão avaliadas nos concursos públicos. Mas, sem dúvida, qualificações de inquestionável relevância acabam por reservar, através desses concursos, consideráveis contingentes de competência para o serviço público.
É mesmo desejável que a máquina pública seja movida por servidores competentes. Mas uma parte considerável do enorme contingente que fica na zona de classificação desses concursos, aguardando uma vaga, continua desempregada. E, se comprovaram estarem avançados em alguns importantes quesitos no contexto da empregabilidade, talvez não tenham colocação no mercado de trabalho pela baixa "empregacionalidade".
A tentativa de formular este conceito, ora denominado empregacionalidade, vem no sentido de dar uma dimensão social à questão, para que seja tratada nos dois lados do mercado de trabalho. Os trabalhadores devem tentar identificar seu grau de "empregacionalidade" e buscar uma posição pessoal diante da situação. Parece tratar-se de algo que demanda atitudes. Começando pela aceitação, para encarar a necessidade de mudanças, sem culpas ou comiseração, mas com fé e vontade de entender comportamentos que foram se estabelecendo ao longo do tempo.
Por outro lado as empresas devem se posicionar quanto ao real interesse em flexibilizar suas estruturas, para ajustar em seus quadros pessoas que podem oferecer contribuições muito especiais, com o respectivo retorno empresarial.
Acreditar que esta visão da questão do trabalho pode contribuir para soluções significa não acreditar na existência de "vadiagem inata". Independente do significado antropológico que esta hipótese tenha, ou psicológico, ou sociológico, ou mesmo popular, é difícil acreditar que, num Mundo como o de hoje, seja opção esclarecida de alguém viver imerso na dependência e no isolamento típicos da vida de uma pessoa desocupada. É difícil até acreditar que alguém goste de passar suas horas repetindo, dia a dia, rotinas improdutivas, que não acrescentam quase nada ao intelecto e até às emoções. É verdade que muitos empregos também acrescentam muito pouco. Mas representam remuneração. E, a simples presença no mercado de trabalho, abre perspectivas de empregos melhores e até, como prevê a democracia, posicionamentos e mobilização em busca de avanços setorias e conjunturais.
É, portanto, mais fácil acreditar que a reação de isolamento, de evitação do emprego, seria reflexo de fragilidades pessoais de alguma ordem, que possivelmente não vão se desfazer sozinhas ao longo do período ocioso. A aparente preferência pela ociosidade, confessada abertamente em alguns casos, seria antes uma forma de dissimular as verdadeiras razões de estar desempregado. Quem sabe até esconder de sí próprio. Precisam, então, de atenções especiais. E, talvez, durante o período inicial dessas atenções, nem precisem abrir mão da integração à realidade presente, que exige de todos atividade sistemática, disciplinada, produtiva, de interesse reconhecido por remuneração e eventuais benefícios. Ou seja, possivelmente possam estar assumindo um emprego o quanto antes.
topo