No contexto desta proposta, no plano mais direto e objetivo, o carente vai ser identificado por ter limitações de consumo abaixo da linha das necessidades essenciais. Não tem os meios suficientes para manter condições dignas de moradia, ou de alimentação, ou vestuário, ou saúde, ou lazer ou outras necessidades básicas. Desta forma fica limitado em suas oportunidades de ascenção pessoal e social.
No entanto, ao longo do que se propõe aqui, vai ser possível perceber que a verdadeira carência que se pretende superar, está mais nas raízes destas condições, do que propriamente nos efeitos que elas produzem no panorama social.
Aqui a "carência" está sendo considerada uma espécie de limitação mais próxima do que parece.
É fácil encontrar famílias de classe média ou média alta, que consomem, convivem e habitam nos padrões admitidos de dignidade humana, e que têm um carente entre seus membros. Se não entre filhos ou irmãos, pelo menos até tios ou primos. No mínimo, um carente numa condição potencial.
A figura do "potencial carente" é caracterizada por aquele filho, por exemplo, que não se adapta a um emprego ou outra forma eficiente de suprimento das próprias necessidades. Não consegue disciplinar sua rotina pessoal de estudos, ou de aprimoramento técnico em habilidades artísticas, ou esportivas, ou qualquer outra ordem de atividade que aponte para seus anseios ou projetos pessoais. Mais claramente, sequer formula seus próprios projetos no nível necessário para o início de uma execução que alcance um resultado minimamente produtivo. Muitas vezes até trabalha, mas em condições especialmente propiciadas, como numa empresa familiar, desempenhando funções pouco complexas, que envolvam poucas responsabilidades.
Trata-se, portanto, de uma suficiência assistida que, na base da pirâmide social, não se sustentaria. Iria, possivelmente, se configurar mais um "carente" de fato.
Portanto, se a carência existe potencialmente até entre as famílias que dispõem de recursos, a razão da carência não deve estar na falta de dinheiro. Daí a necessidade de agir nas bases psicológicas e emocionais da carência para tentar superá-la.