Social e Ambiental
.vias complementares
.propostas práticas
.fluxo vital
.ajustes
.consumidores
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DOIS PONTOS DE PARTIDA.
Esta proposta tem um apêlo social prioritário. Porém, no rumo das soluções pretendidas neste sentido, existe um projeto de forte apêlo ambiental. É o Reciclagem Social, baseado numa idéia um pouco ampliada à respeito da reciclagem do lixo para geração de emprego e renda. Um projeto estruturado numa visão de "desconsumo".
O desenvolvimento desta comunidade de investimento social, na prática, pode então começar por qualquer um desses caminhos. Seja como for, um caminho acaba encontrando o outro. Os projetos sociais vão precisar do espaço de trabalho que a reciclagem pode representar, dando oportunidades até terapêuticas para quem está se engajando num esforço de mudança pessoal. E o projeto de reciclagem precisa da mão de obra disponível nos segmentos sociais mais carentes.
Esta é, portanto, uma proposta sócio ambiental e deve crescer e caminhar nestes dois rumos.
Por isso, se você é mais sensível a uma causa do que a outra, pode começar desde já a participar (veja como a partir do link na página de rosto).
O HORIZONTE DA SUPERAÇÃO
Havendo a decisão de mudar, de alcançar uma rotina de vida produtiva e autônoma, o trabalho digno aparece como elemento fundamental.
No entanto, trabalho remunerado é uma das importantes carências da Sociedade Brasileira como um todo.
Nesta proposta são apresentadas algumas alternativas para oferecer ocupação remunerada para as pessoas que se engajarem no esforço de mudança pessoal. Não se trata de emprego fixo para todas as pessoas, embora em determinados casos, isso acabará acontecendo. Mas será, pelo menos, uma possibilidade de trabalho provisório, onde haverá oportunidade de se refletir sobre a importância do trabalho na vida de cada pessoa. E serão discutidas algumas atitudes que podem aumentar a chance de se alcançar um espaço estável e compensador no mercado de trabalho.
A seguir algumas formas de gerar novas vagas de trabalho que podem ser alvo de estudos e mobilização da comunidade a partir desta proposta:
-Central de Terceirização - Os interessados seriam entrevistados por profissionais de Recursos Humanos de uma equipe que, posteriormente, disponibilizaria os serviços cadastrados para o público. Neste caso, possivelmente apenas para trabalho como diaristas. A central ofereceria apoio como algumas ferramentas, alimentação, EPIs, transporte.
-Reciclagem Social - Segundo dados de especialistas, atualmente Campinas recicla menos de 10% do que poderia ser retirado do lixo. Um custo muito grande para toda a cidade, que precisa transportar e acondicionar um volume de lixo que não deveria ocupar espaço nos aterros sanitários. Isso sem contar o alto custo ambiental. O potencial de criação de vagas de trabalho a partir do Reciclagem Social pode ser significativo.
-Zona Azul de Cooperativas - Depende de aprovação de lei municipal específica. A proposta é estabelecer oficialmente algumas áreas de estacionamento em bairros, nos locais de comércio que costumam ter grande circulação de veículos, como padarias ou restaurantes. O preço seria bem menor do que a Zona Azul comum, o pagamento facultativo, e teria a participação de empresas de seguros.
A partir de sugestões da comunidade, outras oportunidades de ocupação de mão de obra podem ser estudadas e desenvolvidas. Sempre com o propósito de oferecer trabalho digno, que remunere os trabalhadores e garanta condições de salubridade e de ascenção pessoal.
É em nome da vida que o raciocínio humano engendra justificativas para agredir o meio ambiente. E cada vez que este contra senso consegue iludir a razão, muita gente passa a interpor um espaço maior entre "meio ambiente" e "ser humano".
A denominação escolhida, talvez, contribua para esta confusão. "Meio ambiente" conota algo externo, do lado de fora. Às vezes a gente quer "mudar de ambiente", ou sente um "peso no ambiente". Outros termos usados comumente no dia a dia apontam para esta "externalidade" da idéia de "ambiente". Nem sempre o indivíduo se identifica como parte do ambiente. Parte indissociável, organicamente ligada, dependente. Mesmo sendo uma parte móvel, com autonomia que nenhuma outra espécie tem.
O conceito de "meio ambiente" é claro. Mas o espectro semântico pode ser um dos fatores que, diante de tantas provas irrefutáveis, ainda permita ofuscar a relação de causa e conseqüência entre graves transtornos do Planeta e atos ambienticidas.
Preservar florestas, cuidar de árvores, "ter dó de bichinhos", são denunciadas como atitudes elitistas. "-É preciso plantar, construir, dar empregos, crescer", dizem aqueles que usam a palavra em nome do povo desfavorecido. Em nome da parcela majoritária da população, que muitas vezes se engaja nessa retórica, inspirada pela ganância de poucos.
A prática tem mostrado, de forma cada vez mais eloqüente, que as soluções rápidas, pelos atalhos que transpõem a questão ambiental, também se esgotam rapidamente. Duram pouco, não se sustentam.
Eis aí um verbete mais recente - sustentabilidade - que aprimora o vocabulário em matéria tão crucial para a sobrevivência da Humanidade. Mas é uma palavra acentuadamente "verbal". "Sustentabilidade" não indica um lugar - como é o "meio ambiente" - mas um conjunto de atitudes, opcionais, dependentes da vontade de cada um.
Não serão as palavras ou termos utilizados que vão resolver a questão ambiental. Mas, creio, podem assumir maior importância. Principalmente quando uma questão ainda está tão intensamente no plano da retórica. A imensidão de variáveis envolvidas no plano científico facilitam as interpretações distorcidas, adiando definições técnicas em favor da Natureza. Uma questão de vida - como a ambiental - ainda não merece o zelo visto no trato de outras temáticas relevantes, como a segurança pública. Sim, porque mesmo tendo uma extensa legislação, a aplicabilidade é capenga. As autoridades civis, os tribunais, relativizam o respeito a lei, subordinando a aplicação às mazelas sociais e até a conceitos pessoais. Mais uma prova do domínio retórico sobre o tema, a reverberar na letra de leis épicas, pouco aplicáveis.
A ameaça mais séria em curso contra a sobrevivência de todos e de cada um de nós ainda é uma questão de opção. Uma nação qualquer pode decidir poluir o ar de todo o Planeta, evocando simplesmente a própria soberania. Com efeito, seria descabido pensar em uma guerra em defesa do meio ambiente. Mas sanções econômicas, por exemplo, deveriam compor, senão um arsenal - pela flagrante impropriedade do termo - um aparelho reformatório para uso dissuasivo e até estratégico, diante das agressões ambientais. Hoje, discute-se num tribunal internacional de comércio o direito do consumidor boliviano pagar menos por um ipod chinês. "-Que caiam as fronteiras alfandegárias!" Mas defender a saúde da humanidade - o que obviamente inclui também o trabalhador chinês - a partir de manifestações em outros países, exigindo respeito ao meio ambiente na China, é uma afronta à soberania mandarim.
Por isso tudo as palavras têm um papel preponderante na questão ambiental. Ainda são os principais instrumentos. Depende-se delas para apontar com clareza os caminhos corretos, o passo certo entre os infinitos meandros deste cosmo de informações. É necessária uma desambiguação persistente, que evite ao máximo as confusões neste tráfego perigoso de valores universais e conceitos paritários.
A proposta é criar um novo conceito, que destaque e denomine a relação indissociável entre os valores humanos tangíveis, como o meio ambiente, o trabalho, a ascenção social, a cultura, o lazer; e também a produção, a disponibilidade de matérias primas, o retorno de investimentos, o empreendedorismo, a territorialidade compartilhável entre as espécies. Um conceito que não permita relativizar o fato de que o lugar físico de todos estes valores, na forma concreta, é o meio ambiente. Ele deve ter inquestionável e indivisível precedência diante de todos os outros. Ele é o duto por onde passa o bem estar, a saúde, a própria sobrevivência. Ele é o leito do FLUXO VITAL.
FLUXO VITAL
A natureza tem razões originárias para insistir em determinados rumos. Esta é a única direção e também o sentido do fluxo vital. Tudo que for colocado no sentido inverso, trará prejuízos para a vida na Terra. E a vida na Terra é uma só. É a mesma que a Humanidade compartilha com as outras espécies, uma vez que a sobrevivência de plantas e animais é essencial à vida humana.
Ao longo da história o ser humano engatinhou com um descuido pueril sobre este cenário delicado. Uma exigência natural da racionalidade. Mas agora já se sabe o lugar certo de cada uma das coisas: é o lugar que elas escolheram. Sabe-se também que o rumo da história não pode ser interrompido num ato. Vai ser preciso acomodar este passado, ainda no futuro de algumas gerações. E o único jeito é ter uma ação transformadora no presente, para que muitas e muitas gerações existam, bem além deste presente, de forma cada vez mais confortável e segura.
Não se fala aqui em morar debaixo de árvores. Nem mesmo em aldeias, como os ancestrais indígenas. Mas também não parece se justificar mais, sob nenhuma motivação inteligente e honesta, investir no crescimento de metrópoles cuja população, em milhões, já se mede em dois dígitos. Nesses casos, falar em moradia, em trabalho, ou mesmo em saúde, educação e lazer, é claramente contra o fluxo vital. Porque, para que todos tenham esses direitos assegurados, é necessário reduzir a população naquele espaço físico. Há que se investir no desenvolvimento. Que, no caso em questão, torna-se um antônimo de crescimento.
É esta a lógica que se pretende evidenciar: a medida da disponibilidade sustentável de recursos naturais forma, com o eixo do consumo consciente, a "curva" do fluxo vital. Mais escolas, unidades de saúde, moradias, mais empresas e oportunidades de trabalho são claramente a favor do fluxo vital, se estabelecidas em pequenas e médias cidades, onde recursos naturais como a água, a vegetação, a fauna, vão ter espaço minimamente suficiente. Desde que as empresas não poluam, o trabalho não seja degradante, as moradias não ocupem reservas florestais e as unidades de saúde não sejam construídas em áreas de demolição de prédios históricos, por exemplo. A vida passa por estes lugares.
Não há incompatibilidade alguma entre o progresso, o desenvolvimento e o meio ambiente. É isso que se pretende evidenciar neste novo conceito. Quando alguém consome uma fruta, as sementes têm que ser descartadas. Também a embalagem do marmitex. A questão é se vai ser descartada a favor do fluxo vital ou na contramão da vida. A reciclagem, no caso, vai indicar o sentido correto. A agricultura precisa continuar produzindo. Mas a cultura do desperdício, que destrói até mais de 20% na colheita, no transporte e armazenagem, e outros tantos na geladeira e na mesa, precisa mudar. Não se pode mais derrubar florestas para produzir o que é desperdiçado a partir de outras áreas agrícolas.
Ao apelar pelo fluxo vital, os "vitalistas" estariam reivindicando também o progresso, as oportunidades de trabalho para todos, essas coisas que vão a favor da vida. São uma coisa só. Desde que feitas para durarem, não como paliativos, de um ciclo de miséria. É só seguir a direção e sentido corretos. O fluxo vital. No rumo da vida, que é o que todos defendem para sí.
COLETA PÚBLICA DE RECICLÁVEIS.
A proposta é oferecer um sistema prático e eficiente de coleta de recicláveis, a partir de um compromisso recíproco. Os ofertadores também assumiriam o compromisso de direcionar seus recicláveis apenas para os coletores integrados ao Reciclagem Social.
A experiência mostra que, da forma como está, a coleta de recicláveis não atende muitos objetivos. Por exemplo:
.Social - os coletores não costumam usar luvas e outros EPIs indicados. Não observam as boas condições ergonométricas no desempenho do trabalho. Muitos puxam carrinhos, por vezes em condições ruins, sob presumível desconforto físico pelo excesso de esforço, exposição ao sol, à chuva. Se arriscam também no trânsito, onde representam ainda um risco para a circulação de outros veículos. Ao final de todo o esforço, o coletor tem pouca oportunidade de negociar. Precisa vender logo, pela oferta que alcançar. Procurar melhor preço vai exigir longos deslocamentos com toda a pesada carga. Este sistema não parece ser o mais adequado para a ascenção social do trabalhador coletor de recicláveis;
.Ambiental - alguns dos atuais recicladores abrem os sacos de recicláveis, que estão na porta das casas, para escolherem o que interessa. Retiram, por exemplo, as latas de alumínio. Talvez garrafas "pet" também. O resto, largam por ali mesmo, parte espalhada pelo chão. Mais tarde, outro reciclador, ao encontrar ali um volume razoável, porém, já sem os materiais de melhor comércio, não se interessa em levar aquilo. E o saco de recicláveis não sai da porta do cidadão que teve o cuidado de separar tudo. Quando não se transforma em mais sujeira para ser recolhida por ele mesmo.
Em outros casos, o reciclador até leva o saco todo. Mas pára num terreno baldio próximo, faz a seleção dos materiais que vende e simplesmente abandona ou queima o que resta. E o cheiro de plástico queimado incomoda e agride a saúde de quem passar por perto.
Havendo um volume maior, para onde é destinada toda a coleta, a separação de cada tipo de material pode se tornar comercialmente viável. A negociação de cada volume tende a permitir um retorno melhor. E o sistema pode propiciar condições dignas de trabalho para cada trabalhador.
Seria ainda um espaço para educação para o trabalho, tratando desde os cuidados relaciondos à higiene e segurança, até a convivência produtiva com os superiores hierárquicos. A idéia é levar a todos a perspectiva de assumir uma posição de liderança no grupo de trabalho.
As áreas de pesquisa envolvidas abrangem um extenso espectro, do marketing às engenharias.
É necessária também uma estruturação adequada para o tipo de organização que vai se constituir para sediar todas essas atividades propostas.
PREPARAÇÃO DE CONSUMIDORES
Tudo que se movimenta na Economia tem como origem a necessidade ou a vontade do consumidor. Por isso esta necessidade, e principalmente a vontade - que, por fim, determina a atitude de consumo - precisam estar equilibradas numa relação de custo/benefício.
Na visão que embasou esta proposta, a situação de carência a ser superada é considerada também uma dificuldade de gestão da economia pessoal. E o ato de consumir aparece como um dos eixos centrais da economia pessoal. Se, pelo trabalho, pretende-se ensinar como conquistar determinadas coisas, fica faltando ensinar como ter, ou então, como manter essas coisas no novo padrão de vida. Esta é a característica do consumidor bem preparado, esclarecido.
Consumir bem está se tornando cada vez mais complicado. A quantidade de ítens que vão sendo incluídos entre os bens de consumo cresce rapidamente. Forno de microondas, DVD, filmadora, máquina fotográfica digital, microcomputador, banda larga, celular muda a cada dois anos, fogão passou a ser de seis bocas, chapinha para o cabelo, tênis com tecnologias novas, ipod, videogames, isso sem entrar no carro e nos autoítens, e ainda tem vestuário, alimentação, lazer. Tudo multiplicado por um vasto espectro de marcas e modelos.
São tentações permanentes, pressões sempre presentes nos espaços de convivência social. A elas, soma-se um sofisticado e competente sistema mercadológico, que vem desde o merchandising na novela, passa pelas grandes campanhas publicitárias, envolvendo promoções e eventos e chega a um outro arriscado ítem que, se não é exatamente de consumo, é muitas vezes para consumo: o crédito.
Se comparar a extensão deste menu, hoje abrangentemente popular, com as alternativas de um nobre da Idade Média, este último pareceria um franciscano.
Talvez por isso, nos anos 70, a palavra "consumista" era a referência mais comum à atitude de consumo. E uma referência altamente pejorativa. Rejeição à uma realidade que estava se instalando de forma irreversível. A chamada "sociedade de consumo".
É verdade que o termo "consumista" não tinha nada a ver com o conceito de consumidor dos dias de hoje. O consumista seria hoje o mau consumidor, com muito poder. Mas este contraste de significados entre palavras tão semelhantes pode mostrar como a atitude de consumir foi repensada e redimensionada ao longo dos anos.
O consumidor conquistou leis e até um Código específico, varas judiciais, serviços públicos e privados de fiscalização e atendimento, espaço específico no Ministério Público, escritórios de direito especializados, departamentos nas empresas fornecedoras. Em pouco tempo o conceito de "consumidor" ganhou um status de grande importância na Sociedade. Confunde-se com o próprio conceito de cidadania. Faz sentido! Afinal, como fruir os direitos assegurados pela lei, sem praticar ordinariamente o ato de consumir?
A seguir, algumas reflexões sugeridas para o tema:
-Preparar o consumidor inclui desenvolver habilidades para lidar com os próprios impulsos diante das provocações permanentes dos apêlos de consumo. Significa dotar de ferramentas para dar eficácia ao ato de consumo, sem comprometer a agilidade que isso exige.
-O consumidor esclarecido deve lidar com estes impulsos sem tentar excluí-los, sem gerar apego excessivo ao dinheiro ou avareza.
-O consumidor esclarecido não é o consumidor reduzido em seu potencial. É alguém que consome com eficiência e eficácia, dando sentido ao esforço que empreende no dia a dia. Trabalhar e se dedicar se justifica, em grande parte, ao avanço nos padrões de consumo, tanto no atendimento das necessidades objetivas, como também das subjetivas. Até porque, ao longo do tempo, necessidades subjetivas podem passar a ter um peso objetivo.
-O consumidor deve identificar as necessidades de consumo objetivas, como alimentação básica, moradia digna, vestuário, preparação profissional, lazer. E as necessidades de consumo subjetivas, às quais ele próprio atribui valores especiais, como o atendimento dos caprichos do paladar, a compra de griffes, o carro mais novo antes da casa arrumada, as viagens longas. Essas necessidades subjetivas devem, sim, existir e serem atendidas. Porém, precisam ser colocadas depois das necessidades objetivas. E, então, lucidamente pesadas em seu custo real na vida de cada pessoa. Depois da apuração deste "custo", cada um deve ponderar qual a real disposição para dispender o esforço lícito, para atender qual tipo de capricho.
-Consumir é satisfazer caprichos. Mas é principalmente suprir adequada e equilibradamente as necessidades essenciais. Nesta questão, uma das importantes variáveis é o tempo. Os padrões de consumo seriam hierarquizados e condicionados a outras realizações, encaixadas ao longo de uma linha de planejamento. E, a cada mudança nesta seqüência, deve corresponder um novo planejamento.
-Outra variável fundamental a ser valorizada nesse contexto é a poupança. Os efeitos que ela pode produzir no padrão de consumo e na gestão da economia, pessoal ou em qualquer escala, são muito importantes.
Esclarecendo o consumidor vai ser possível formar um contingente cada vez maior, para a constituição da insuperável força da sociedade. Uma sociedade que pode alcançar o poder de fazer atender todas as demandas coletivas. Um consumo mais pragmático deve surgir. Um consumo quase engajado.
Para tanto, o consumidor pode pensar sua posição não apenas na condição de "mercado". Muitas vezes o termo é usado como sinônimo. Porém, o mercado é algo coletivo. A "lógica do mercado" é algo que pode surpreender a cada instante. Sobre a qual não se tem controle ou parâmetros mais estáveis. Já o consumidor tem raciocínio próprio. Por isso pode tentar se articular minimamente e se estabelecer como poder, e não apenas se apoiar num conjunto de direitos.
Se, ao "poder econômico" são atribuídas tantas decisões e direcionamentos, o conjunto dos consumidores é exatamente o fator gerador sobre o qual se estabelece e se justifica este poder.
CONSUMO OU CONSUMISMO
Consumir é o sinal mais evidente de vida. É saudável!
No caso dos humanos, tem a atitude de escolha no consumo. E a capacidade de criar novas escolhas. Se isso deveria ser uma forma de ampliar as chances de sobrevivência, com mais alternativas de consumo, agora está também antecipando limites para a própria sobrevivência, pelo dispêndio excessivo de recursos.
Os cinco sentidos físicos e o aparato sensorial ligado à eles, já foram as interfaces do consumo. Mas as fantasias que entraram por essas vias criaram o supérfluo, o maná genérico de um surto famélico cada vez mais abrangente. O supérfluo, o desnecessário-ter, dá um outro sentido ao consumo. Ou, muito pelo contrário, tira todo o significado de consumir.
Consumir, para alguns, se tornou então uma síndrome.
Fatos não tão recentes são emblemáticos.
Para mim e, creio, para muitos nesse hemisfério abaixo da linha do consumo, ainda não dá pra entender o que levou tantas pessoas ao desconforto de enfrentar filas e empurrões, com o único propósito de comprar um programa de computador. Foi no lançamento do Windows 95, que atrasou até a própria certidão de nascimento.
Já havia passado o ano para o qual fôra prometido e a televisão começava a mostrar longas filas em frente à grandes lojas do Primeiro Mundo. Muitas e muitas pessoas, desde a madrugada, aguardavam o momento de adquirir um cd embalado de um jeito diferente. Qual prazer estaria por trás daquela busca?
O objeto de desejo não seria capaz de acrescentar nada aos sentidos físicos. Nem no plano dos pecados capitais ele poderia derpertar algum impulso: não serviria para ser ostentado entre a comunidade; pendurado ao pescoço, ninguém iria reconhecer sua identidade. Nem o prazer neo antropófico de então, limitado a brincar solitariamente no computador, corria o risco de ser interrompido, por mais alguns dias de espera pelo novo software. Bastaria uma mentirinha durante alguns dias, para se comparar a um legítimo proprietário. Mas todos queriam tê-lo o quanto antes, a qualquer preço. A ponto da indústria do virtualismo ter perdido qualquer virtuosismo naquela sua obra, para disponibilizá-la o quanto antes, mesmo com tantos bugs, que só perderam em notoriedade para o prometido para a virada do Milênio.
Um caso clássico de consumo pelo consumo. O consumo deixa de ser a resposta sistêmica a uma carência e passa a ser a própria necessidade. Com muito mais freqüência, este mesmo comportamento se repete no dia a dia, com produtos mais tradicionais.