.trabalho digno
.emprego e renda
.central de terceirização
.reciclagem social
.intercâmbio empresarial
.zona azul
.círculo vicioso
.chefe colaborativo
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MÃOS A OBRA PARA RECONSTRUIR
O trabalho digno não pressupõe apenas remuneração. Deve permitir aos trabalhadores períodos de descanso durante o dia e a semana, deve acrescentar algo ao conhecimento desses trabalhadores. E deve se estabelecer a partir de uma autêntica relação de custo/benefício para o cliente, eliminando o apêlo sentimentalista.
Na visão ligada a esta proposta, não basta procurar alguma fonte de renda para o carente. É importante que ele entenda que o trabalho precisa representar mais do que uma forma de sobrevivência imediata. Precisa também aumentar os horizontes pessoais, melhorar as condições de vida.
Por menos compensador que pareça o esforço pelo trabalho em alguns casos, deve-se considerar o ganho que esta condição - de trabalhador - representa do ponto de vista psicológico, emocional. E, numa escala maior, o aumento de trabalhadores regularmente remunerados deve dinamizar a circulação de dinheiro na Sociedade e, como conseqüência, melhorar as condições econômicas como um todo.
Nenhuma pessoa deve ser desconsiderada em seu potencial de mudanças a partir de seu próprio esforço, com respectivo retorno tanto para a pessoa como para toda a Sociedade. É neste sentido que se deve empreender no engajamento de mais e mais pessoas no trabalho.
Ficaria muito difícil falar de propósito de mudança de vida e oportunidade de ascenção pessoal sem falar de trabalho.
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O HORIZONTE DA SUPERAÇÃO
Havendo a decisão de mudar, de alcançar uma rotina de vida produtiva e autônoma, o trabalho digno aparece como elemento fundamental.
No entanto, trabalho remunerado é uma das importantes carências da Sociedade Brasileira como um todo.
Nesta proposta são apresentadas algumas alternativas para oferecer ocupação remunerada para as pessoas que se engajarem no esforço de mudança pessoal. Não se trata de emprego fixo para todas as pessoas, embora em determinados casos, isso acabará acontecendo. Mas será, pelo menos, uma possibilidade de trabalho provisório, onde haverá oportunidade de se refletir sobre a importância do trabalho na vida de cada pessoa. E serão discutidas algumas atitudes que podem aumentar a chance de se alcançar um espaço estável e compensador no mercado de trabalho.
A seguir algumas formas de gerar novas vagas de trabalho que podem ser alvo de estudos e mobilização da comunidade a partir desta proposta:
-Central de Terceirização - Os interessados seriam entrevistados por profissionais de Recursos Humanos de uma equipe que, posteriormente, disponibilizaria os serviços cadastrados para o público. Neste caso, possivelmente apenas para trabalho como diaristas. A central ofereceria apoio como algumas ferramentas, alimentação, EPIs, transporte.
-Reciclagem Social - Segundo dados de especialistas, atualmente Campinas recicla menos de 10% do que poderia ser retirado do lixo. Um custo muito grande para toda a cidade, que precisa transportar e acondicionar um volume de lixo que não deveria ocupar espaço nos aterros sanitários. Isso sem contar o alto custo ambiental. O potencial de criação de vagas de trabalho a partir do Reciclagem Social pode ser significativo.
-Zona Azul de Cooperativas - Depende de aprovação de lei municipal específica. A proposta é estabelecer oficialmente algumas áreas de estacionamento em bairros, nos locais de comércio que costumam ter grande circulação de veículos, como padarias ou restaurantes. O preço seria bem menor do que a Zona Azul comum, o pagamento facultativo, e teria a participação de empresas de seguros.
A partir de sugestões da comunidade, outras oportunidades de ocupação de mão de obra podem ser estudadas e desenvolvidas. Sempre com o propósito de oferecer trabalho digno, que remunere os trabalhadores e garanta condições de salubridade e de ascenção pessoal.
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CENTRAL DE TERCEIRIZAÇÃO
Através de uma estrutura de cooperativa de trabalho seriam triados, entre os atendidos na Central de Acolhimento e no Acampamento Solidário, trabalhadores e trabalhadoras interessados em prestar rápidos serviços a particulares que solicitassem.
Os trabalhadores e as trabalhadoras seriam previamente entrevistados por profissional de recursos humanos e disponibilizados, dentro do perfil de capacitação de cada um, para eventuais interessados, possivelmente para trabalho como diarista. Por exemplo, o proprietário de um grande terreno que precisasse de capinação poderia passar pela Central de Terceirização e contratar uma turma. As ferramentas seriam emprestadas pela própria Central e o material removido, caso não interessasse ao proprietário, seria destinado ao Reciclagem Social. O pagamento seria feito no valor previamente acertado com a Central de Terceirização e na presença do responsável pela Central. Porém, o valor deve ser pago diretamente a cada trabalhador.
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RECICLAGEM SOCIAL
Deverá envolver várias áreas de conhecimento.
O Programa Reciclagem Social vai ser desenvolvido em torno de uma atividade industrial que terá como matéria prima os resíduos recicláveis de consumo ou de produção.
Porém, o que se pretende é agregar também muitos outros potenciais que estejam sendo sub aproveitados. Desde a mão de obra de pessoas carentes até a vontade de agir de quem quer transformar a Sociedade.
O material reciclável recolhido e a respectiva manipulação não representarão apenas uma simples relação de matéria prima e indústria, mas um "espaço amostral" para pesquisar e desenvolver formas de otimizar todos os potenciais envolvidos.
Dentre os objetivos pretendidos através do programa podem ser citados:
-geração de emprego e renda;
-redução do impacto ambiental de resíduos de consumo e de produção;
-formação de um ambiente de trabalho educativo e potencialmente terapêutico;
-geração de conhecimento sobre processos físico-químicos de reciclagem;
-ampliação do conhecimento sobre hábitos sociais no trato de resíduos;
-desenvolvimento de novas possibilidades de negócios ligadas à reciclagem;
-ampliação do espectro de produtos recicláveis e/ou obtidos pela reciclagem;
-geração de processos industriais de reciclagem cada vez mais eficientes
No rumo do desenvolvimento deste programa, além do espaço de trabalho com os recicláveis, pretende-se formar um CPqD, um Centro de Pesquisas e Desenvolvimento do Processo Amplo de Reciclagem. Isso envolveria desde o tratamento diferenciado dos vários materiais que chegam, até pesquisas de comportamento.
O CPqD não seria estabelecido fisicamente num único local. Teria um centro gestor e um banco de dados, para promover o intercâmbio de informações e a distribuição de temas sugeridos para novas pesquisas, com base nas carências apuradas durante o processo de reciclagem em prática no programa. Chats e outros recursos de comunicação devem ser estudados.
Desta forma, as pesquisas estariam acontecendo simultaneamente em várias frentes, contando com o apoio do Reciclagem Social, tanto no fornecimento de informações como na abertura e adequação de espaço para pesquisa no local.
As possibilidades de pesquisas começam nos hábitos domiciliares, passam por toda a logística de recolhimento dos recicláveis, a separação mais adequada, o tratamento industrial dos resíduos e as práticas de comercialização dos produtos finais. E, é claro, tem como ponto central o Ser Humano envolvido em todas as fases deste processo.
Para tanto, é necessário levantar o interesse de universidades e empresas num trabalho deste tipo.
SIMPLIFICANDO O HÁBITO DE RECICLAR
-Reciclar é uma prática, por vezes, trabalhosa. A coleta domiciliar de recicláveis, diferentemente do lixo comum, não costuma ser diária. Então precisa lavar aquele "lixo" reciclável para aguardar a coleta, o que representará mais um trabalho para a dona de casa. Quem compra algum alimento numa bandeja de isopor envolvida por filme de PVC, pode ter um grande trabalho para reciclar tais materiais. Se simplesmente colocar tudo num recipiente para recicláveis, corre o risco de permitir ali o acúmulo de insetos e a propagação de cheiro.
Da mesma forma, reciclar saco plástico de leite ou caixas tipo longa vida, costuma exigir desmontagem para lavagem prévia.
A pesquisa pode ajudar. Por exemplo, apresentando alguma tecnologia que facilitasse contornar essas dificuldades. Talvez um tipo de talco, algum pó, barato e atóxico, que pudesse ser aplicado por um borrifador e tivesse o efeito prático de evitar cheiro e a aproximação de insetos. Quem sabe cal, bicarbonato de sódio. Com soluções desse tipo o ato de reciclar talvez se tornasse bem mais simples. Novos equipamentos domésticos podem surgir.
Uma lavagem só, em ambiente industrial, com perspectiva de reaproveitamento de efluentes, possivelmente representaria uma grande economia em relação ao consumo domiciliar de água para lavar recicláveis.
ETAPAS DE UTILIZAÇÃO E FASES DE RECICLAGEM
Antes de reciclar é necessário pensar em reaproveitar.
Na outra ponta desta etapa, após a reciclagem, pretende-se estabelecer um contato paralelo com empresas em geral que já atuam na área de reciclagem. E orientá-las para encaminhar seus rejeitos para a Reciclagem Social. Afinal, o que representa um rejeito para uma pequena empresa recicladora, acumulando com volumes que chegam de outras empresas similares, pode formar uma quantidade viável para comercialização direta, ou submetida a novo processo de separação. Além disso, para o CPqD Reciclar, este material pode se constituir objeto de análise e pesquisa.
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FEED BACK PARA A INDÚSTRIA DE EMBALAGENS
É preciso pesquisar e desenvolver o sistema doméstico mais prático e barato para reciclar. O que pode significar também recomendações para a Indústria e o Comércio. Por exemplo, sobre os filmes de PVC normalmente são coladas etiquetas de papel. Essas etiquetas são difíceis de serem retiradas para reciclagem a parte. Talvez seja o caso de criar etiquetas de outros materiais, de PVC, ou utilizar colas com solventes práticos para a retirada das etiquetas. A separarção domiciliar em apenas dois volumes - recicláveis ou não - também deve ser melhor do que indicar separação em vários volumes diferentes (vidro, plástico, metais, madeira, tecido, ....) .
FORNECEDORES CORPORATIVOS
É necessária também uma abordagem a parte para as empresas em geral. O lixo dos escritórios das mais variadas empresas deve ter, em peso, mais de 90% de recicláveis. Em volume, talvez mais de 98%. A medida simples a ser proposta seria a criação de um "lixo" novo só para os não recicláveis. Os "lixos" habituais simplesmente passariam a ser os recicláveis, pois já são utilizados, em sua grande maioria, para recicláveis.
Cursos de reciclagem para funcionários e funcionárias de empresas de limpeza e também para empregadas domésticas em geral, seriam estratégicos. A elaboração do conteúdo desses cursos, no entanto, deveria ser posterior a criação do desejável sistema "prático e eficiente" de reciclagem doméstica, a ser pesquisado principalmente pelo CPqD Reciclar, com base nas condições a serem apuradas, talvez, em residências amostrais selecionadas.
O NOVO MARKETING
Além da conscientização da população sobre a importância de reciclar (ambiental, social, econômica, educacional) as ferramentas de marketing podem propor novos apêlos - isso pode incluir uma nova denominação para o que hoje é conhecido como "lixo". Uma nova denominação poderia ser uma oportunidade para despertar a população para uma nova forma de encarar o ciclo de resíduos no dia a dia. Um novo marketing pode despertar, sob diversos outros aspectos, a atitude de reciclar. Um desafio para profissionais e empresas de publicidade e propaganda.
COLETA PÚBLICA DE RECICLÁVEIS
A proposta é oferecer um sistema prático e eficiente de coleta de recicláveis, a partir de um compromisso recíproco. Os ofertadores também assumiriam o compromisso de direcionar seus recicláveis apenas para os coletores integrados ao Reciclagem Social.
A experiência mostra que, da forma como está, a coleta de recicláveis não atende muitos objetivos. Por exemplo:
.Social - os coletores não costumam usar luvas e outros EPIs indicados. Não observam as boas condições ergonométricas no desempenho do trabalho. Muitos puxam carrinhos, por vezes em condições ruins, sob presumível desconforto físico pelo excesso de esforço, exposição ao sol, à chuva. Se arriscam também no trânsito, onde representam ainda um risco para a circulação de outros veículos. Ao final de todo o esforço, o coletor tem pouca oportunidade de negociar. Precisa vender logo, pela oferta que alcançar. Procurar melhor preço vai exigir longos deslocamentos com toda a pesada carga. Este sistema contribui pouco para a ascenção social do trabalhador coletor de recicláveis;
.Ambiental - alguns dos atuais recicladores abrem os sacos de recicláveis, que estão na porta das casas, para escolherem o que interessa. Retiram, por exemplo, as latas de alumínio. Talvez garrafas "pet" também. O resto, largam por ali mesmo, parte espalhada pelo chão. Mais tarde, outro reciclador, ao encontrar ali um volume razoável, porém, já sem os materiais de melhor comércio, não se interessa em levar aquilo. E o saco de recicláveis não sai da porta do cidadão que teve o cuidado de separar tudo. Quando não se transforma em mais sujeira para ser recolhida por ele mesmo.
Em outros casos, o reciclador até leva o saco todo. Mas pára num terreno baldio próximo, faz a seleção dos materiais que vende e simplesmente abandona ou queima o que resta. E o cheiro de plástico queimado incomoda e agride a saúde de quem passar por perto.
Havendo um volume maior, para onde é destinada toda a coleta, a separação de cada tipo de material pode se tornar comercialmente viável. A negociação de cada volume tende a permitir um retorno melhor. E o sistema pode propiciar condições dignas de trabalho para cada trabalhador.
Seria ainda um espaço para educação para o trabalho, tratando desde os cuidados relaciondos à higiene e segurança, até a convivência produtiva com os superiores hierárquicos. A idéia é levar a todos a perspectiva de assumir uma posição de liderança no grupo de trabalho.
As áreas de pesquisa envolvidas abrangem um extenso espectro, do marketing às engenharias.
É necessária também uma estruturação adequada para o tipo de organização que vai se constituir para sediar todas essas atividades propostas.
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ZONA AZUL DE COOPERATIVAS
Este serviço seria implantado apenas em bairros, onde não existe Zona Azul. Em alguns pontos desses bairros existem padarias, restaurantes e outros pontos de comércio por onde passam vários carros. E é lá onde acabam aparecendo os "flanelinhas", com a tradicional abordagem: "-Posso olhar seu carro?"
A idéia é organizar os "flanelinhas" de determinada região daquele bairro, de alguns pontos de circulação, de forma a propiciar um serviço útil para a comunidade, que acrescente algumas vantagens. Ao mesmo tempo em que se propicia uma oportunidade de trabalho digno para essas pessoas.
O primeiro passo é conversar com os responsáveis pelos respectivos estabelecimentos que vão fazer parte do espaço de trabalho da cooperativa que vai se formar. Cada comerciante vai indicar os "flanelinhas" que estarão atuando em frente ao seu estabelecimento. Eles vão fazer parte de uma cooperativa que reúne alguns pontos de trabalho. Juntos, poderiam organizar revezamento em folgas.
A área de "Zona Azul de Cooperativas" vai ser delimitada, na rua, pela prefeitura, para determinado período. Outros locais vizinhos, que não tenham atividade à noite, podem ceder a área de estacionamento, que eventualmente exista antes da calçada, para ser também utilizada. Como é o caso de algumas lojas que têm maior afastamento da calçada, que permite o estacionamento de carros. O período de cessão, certamente, seria o período em que a loja não estiver funcionando.
Ao chegar o cliente da padaria, por exemplo, ele é abordado pelo "flanelinha" da cooperativa local, com a devida identificação no jaleco.
O cooperado ("ex-flanelinha") terá um amplo guarda chuva, para quando for necessário. Vai oferecer ao cliente o serviço de guarda do carro, que inclui um seguro contra furto ou roubo do veículo enquanto o cliente estiver com o carro por ali.
O cliente que concordar pagará, em sua saída, um valor em torno de R$ 0,50. Este valor deve variar para o caso de restaurantes ou outros estabelecimentos onde o cliente permaneça longos períodos durante a noite.
Ao concordar receberá uma placa de acrílico numerada, identificando o estabelecimento.
Do valor pago, uma parte vai ser destinada para a seguradora que estiver dando cobertura aos veículos ali estacionados. A outra parte vai ser destinada para a cooperativa, para remunerar os cooperados.
A seguradora deverá oferecer os jalecos, os guarda-chuvas, capa de chuva e galocha para os cooperados, chapéu para proteção do sol, cadeira. Tudo com possibilidade de utilização promocional, divulgando a marca da seguradora. Poderá também, eventualmente, distribuir folhetos e outros materiais promocionais através dos cooperados. É desejável que se providencie também protetor solar suficiente para os cooperados aplicarem antes de iniciar o trabalho e durante.
O pagamento poderá ser feito no caixa da padaria, com controle previamente discutido com os cooperados. Entre eles deverá ser estabelecida uma rotina de turnos para não sobrecarregar ninguém e permitir um padrão de trabalho saudável e compensador.
Desta forma, vai se estabelecer um serviço alternativo. Um serviço que acrescenta algo a quem quiser pagar.
Será uma maneira de excluir a situação em que o cliente se sente pressionado a pagar por algo que não acrescenta quase nada para ele. Algo que ele não sabe exatamente quanto custa, nem quanto vale. Um dinheiro que ele não sabe para qual uso será destinado e que circula numa relação que não chega a ser de trabalho mas também nem sempre chega a ser de favor.
O cidadão que encontrar estes espaços pela cidade possivelmente se sentirá mais motivado a pagar pelo serviço. Porque o valor será baixo, o serviço prestado será maior e ainda vai estar consciente de contribuir para um trabalho digno de uma pessoa que não é tão desconhecida, porque foi escolhida pelo dono do estabelecimento comercial em questão.
Este sistema, se adotado, possivelmente vai reduzir o número de "flanelinhas" atuando na cidade. Porém, entre os que se estabelecerem através das cooperativas, vai ser possível gerar uma oportunidade de trabalho digno. Para alguns, o faturamento na cooperativa pode até ser menor do que antes. Mas será um faturamento através de um trabalho que deve atender e agradar a comunidade.
Além disso vai ser possível contribuir com a previdência, contando tempo de serviço para aposentadoria. E será uma referência profissional para que, no futuro, o cooperado possa também disputar outras oportunidades no mercado de trabalho, mesmo em ramos diferentes.
A eventual implantação desse serviço vai depender da aprovação de Lei Municipal.
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A DOAÇÃO NUM CÍRCULO VICIOSO
É fácil observar que a pessoa que chega a uma situação de carência acaba encontrando como maior resposta da Sociedade a doação de alimentos, a doação de roupas, de material escolar, material de construção ou qualquer outro tipo de DOAÇÃO. Porém, tais doações não chegam medidas e encaixadas num processo mais amplo, que deságue num cenário de novas perspectivas. Daí a tendência de limitar o assistido, de condicioná-lo a receber doações. Ele fica, portanto, sem alternativa prática para alcançar suas próprias soluções.
Nem sempre é oferecida a ele a oportunidade de se instrumentalizar para definir seus próprios rumos. E a prática mostra que ninguém está suficientemente habilitado para "resolver problemas dos outros", ou seja, parece que não adianta dar cesta básica cheia de conselhos.
Ao que parece, estas soluções só vão ser alcançadas quando implementadas pelos caminhos e métodos de quem vive os problemas. Há, na verdade, papéis coadjuvantes a serem desempenhados no apoio de iniciativas que, originalmente, tenham sido projetadas e assumidas espontaneamente por quem vive a situação de carência. O caminho proposto é motivar o surgimento dessas iniciativas.
Gerar alternativas para alguém se engajar no trabalho pode ser uma ação complexa. Cursos profissionalizantes são alternativas importantes. Porém, o que se espera é uma ação num nível anterior, uma dinamização no quadro mental das pessoas assistidas. Algo que restituísse - ou evidenciasse - a condição de autor, inerente a cada indivíduo no curso de sua vida. Que situasse no nível da competência e da responsabilidade de cada pessoa, a estimativa confiável de suas capacidades. E a partir desta auto apreciação, surgisse um sentimento de conquista, que pavimentasse firme e visivelmente um caminho - próprio, escolhido - em direção às metas pessoais.
No contexto deste apoio enquadram-se recursos desenvolvidos na "engenharia comportamental", tão eficiente no âmbito das empresas. A adaptação de técnicas motivacionais já aplicadas entre empregados de diversas empresas, talvez possa ser útil para pessoas carentes, no que diz respeito ao auto conhecimento e elaboração de soluções para a vida pessoal.
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QUEM TRABALHA PARA QUEM
Liderança e chefia têm ligações genéticas. Na diversidade de conceitos descritos sob as duas denominações, as distâncias entre um e outro variam. Para a discussão ora proposta a diferença em questão, o gene marcador, será o "cargo", associado à idéia de chefia.
A importância da liderança, em qualquer modelo de sociedade, tem várias evidências na Natureza. Na sociedade humana, a formação crescente de novos arranjos de convivência, foi gerando a necessidade de mais e mais líderes. Na falta de contingente genuinamente classificado, pode ter surgido a oportunidade de criação das chefias. E é aí onde o poder, em sua dimensão exclusiva na espécie humana, gera deformações.
As chefias, nesta visão, seriam postos cercados das prerrogativas próprias do líder. O "hábito fazendo o monge", num lugar do grupo chamado "cargo". Cargo-de-chefia ou equivalente passou, então, a ter uma importância prática maior do que a própria liderança. Não que as reais habilidades do líder sejam incompatíveis com o cargo-de-chefia mas, pela interveniência de questões típicas do poder, às vezes chega até a ser um dificultador.
As prerrogativas do chefe, diferente do que acontece com o líder, são estabelecidas segundo um preceito disciplinar. Goste ou não, os outros membros do grupo, sob a determinação do poder, vão dedicar ao chefe o respeito, a obediência, o serviço, as capacidades pessoais.
Isso leva o chefe, muitas vezes, a se ver na posição de um "semi-dono". Alguém que, por definição, é merecedor de atenções e cuidados especiais. Seus humores e preferências presumem maior importância do que a devida a todos os trabalhadores do grupo. Atitudes de consideração e respeito lhe são menos exigidas e dar satisfação sobre o sentido de suas ordens, às vezes fica fora de cogitação.
Em muitos casos, talvez por fragilidade da própria estrutura da empresa, esse comportamento é até cobrado pelos superiores hierárquicos, como gerentes e diretores. A firmeza que eles gostariam de impor, até no estilo mais amador, por vezes é cobrada dos imediatos até o chão de fábrica, na esperança de que consigam o que eles mesmos não se sentem capazes ou à vontade para fazer.
A prática tem demonstrado que esta deformação funciona. Mas, como tudo pode ser melhor, esta reflexão traz algumas questões e encaminhamentos.
CHEFE COLABORATIVO
Para que serve um chefe num espaço constituído para produzir? Quais devem ser as funções de um chefe, se ele não está exatamente na produção direta?
O chefe ora sugerido tem compromissos diferentes com o grupo e com a organização como um todo. Ele deve ser o facilitador das tarefas de seus subordinados. Deve trabalhar para seus funcionários, e não o contrário. Porque é a mão de obra direta que vai materializar, de fato, o produto ou serviço que o cliente quer. É para isso que a empresa existe, esta é a tarefa da empresa como um todo.
O atributo de autoridade de cada chefe seria, então, redefinido para responsabilidade. É a especial responsabilidade do chefe sobre a produção daquele grupo que deve sustentar a prevalência de suas decisões. Em nome desta responsabilidade, o chefe deve fazer valer todos os legítimos interesses de cada um dos membros do grupo. Por exemplo, quando um funcionário atrasa, ele atrapalha o andamento do trabalho de todo o grupo. A atitude do chefe vem no sentido de evitar que uma sobrecarga caia sobre os outros funcionários.
Essa atitude não deve, então, ter simplesmente o pêso da vontade do chefe, da ação puramente disciplinar. Ela é a expressão do interesse de todo o grupo. Isso muda tudo. Porque, durante o período desse atraso, o leque de providências cabíveis já pode ser muito diferente. Por exemplo, pensando no interesse do grupo, o chefe pode até entrar na linha de produção para superar aquela ausência. No retorno do funcionário, a reação também pode ser muito diferente. Começando por uma atitude de acolhimento. E, uma vez que o funcionário comprove real empecilho, o chefe deve discutir com ele as possibilidades de se precaverem contra outro evento semelhante. Afinal, mesmo com razões justas, serão razões pessoais. E é questionável o interesse, para o grupo, em manter como membro alguém que é freqüentemente impedido, por questões pessoais, de comparecer ao trabalho.
VALORIZANDO RECURSOS
A importância desta ação facilitadora é, em grande parte, já considerada nas empresas. Por exemplo, pelo fato de que uma contratação custa caro. É todo um processo de seleção para chegar a um nome, a um profissional. E, se o profissional é selecionado, é lógico considerar que ele pode ser útil para a empresa. Cabe, portanto, também ao chefe, a valorização daquele recurso onde a empresa investiu - no caso, o recurso humano - para que ele sirva às atividades fins.
É fácil ouvir histórias de funcionários que se destacaram como profissionais e como companheiros durante muitos anos. Mas depois de subirem de função, depois de assumirem um cargo-de-chefia, tornaram-se irreconhecíveis. Cresceram por atuarem sempre com responsabilidade. Até que passaram a atuar com autoridade. Um quesito no qual é muito difícil ser previamente experimentado.
Tendo uma postura diferente por parte do chefe, de colaboração, pode-se evitar muito mal estar e também quedas de produtividade. Por exemplo, quando os trabalhadores de um determinado setor sentem problemas em relação a um colega, a saída muitas vezes é esperar que os problemas cresçam, ao ponto de saltar aos olhos do chefe. Uma forma de evitar a pecha de "dedo duro". Enquanto isso, a empresa e todo o grupo vão ficando com o prejuízo. Porém, se o grupo tiver a certeza de que a atitude do chefe será de colaboração em relação ao colega, vai se sentir mais à vontade para pedir providências. A dificuldade pode vir à tona antes de trazer tantos prejuízos. E a ação do chefe terá chances de recuperar aquela mão de obra para o setor. Até porque a nova atitude do chefe tende naturalmente a se reproduzir entre o grupo, que sentirá mais claramente a importância de acolher o colega.
É assim que se espera viabilizar mais trabalhadores, vindos da base do próprio grupo, para postos de chefia. Sem contrastes de comportamento. Sem dificuldades de aceitação por parte daqueles que antes estavam no mesmo nível. Uma experiência que encontraria, num espaço de trabalho como o Reciclagem Social, uma boa oportunidade. Desde que considerada válida por especialistas do setor.
SEMI DONO
Ainda na analogia com a figura de um "semi-dono", pode-se considerar que o verdadeiro dono, de certa forma, também trabalha para os funcionários. Ele investe seu capital próprio em ativos, disponibilizados para os funcionários trabalharem. O dono corre riscos em função de objetivos, que acabam por propiciar os empregos aos trabalhadores. O chefe, pelo contrário, não investe bens pessoais na empresa.
Olhando por um outro prisma, figura de "dono" é algo que está desaparecendo. Com a tendência de profissionalização do comando das grandes corporações, os donos são investidores. Sim, donos sempre provisórios, de papéis, que trocam de mãos em grandes negociações. De forma que as reais instâncias de decisões são sempre devedoras de todas as explicações aos conselhos e assembléias.
Nas pequenas empresa, o dono é mais submisso ainda. Afinal a prática demonstra que, não havendo uma atitude de total disponibilidade ao cliente e suas preferências, a tendência é de fechar as portas e dar lugar a outro empresário.
Daí mais algumas razões lógicas para que o chefe se dedique a seus subordinados.
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