GRUPOS DE ORIENTAÇÃO

Para mudar de vida convém ter orientação para os novos caminhos. Os Grupos de Orientação vão levar informações e sugestões práticas em diversas áreas como limpeza e organização da casa, arquitetura do ambiente, culinária racional e saudável, convívio com animais domésticos, paternidade responsável e puericultura, família e prevenção contra as drogas, consumo eficiente, dentre outros. Tudo dentro de padrões técnicos. Não é a essência da mudança pretendida. São, sim, ferramentas essenciais para a mudança.

Os Grupos de Orientação deverão ter um programa para cada tema específico. Cada programa será preparado por especialistas e apresentado através de cartilhas, vídeos, eventos, workshops palestras e principalmente, com orientações pessoais, no local onde a família mora. O processo de coaching talvez possa ser adaptado para esta relidade. Deve ser aproveitado o que já tiver sido produzido por órgãos oficiais ou outras entidades e que for avaliado como sendo de conteúdo adequado.

Os interessados em prestar atendimento através dos grupos terão que seguir rigorosamente o programa previamente preparado pelos especialistas, que devem oferecer também treinamento para esses multiplicadores.

Com o tempo, o que se espera é que, entre os próprios atendidos, surjam novos multiplicadores, que estarão levando essas informações para outros carentes. Isso pode começar com depoimentos através de vídeos, para motivar seus pares e, no futuro, pode haver a oportunidade de se tornar um multiplicador.

O momento oportuno para a aproximação dos Grupos de Orientação deve surgir na ocasião em que a família começa a expor determinadas carências ligadas ao conforto pessoal. As estratégias para transferir as orientações, para promover a conscientização a respeito dos vários temas, vai ser mais um desafio à criatividade das pessoas envolvidas no Grupo.

GRUPO 5 "S" - É comum faltar a essas famílias alguns móveis ou equipamentos domésticos importantes. Às vezes camas, colchões, fogão ou geladeira em melhores condições de uso. É hora do Grupo "5 S" conversar um pouco sobre a rotina da casa e, se for o caso, até sugerir a inclusão de mais móveis. Por exemplo, uma cômoda para facilitar a organização do quarto.

Mas é hora de questionar também o acúmulo de material no fundo da casa, ou as roupas empilhadas que não são mais usadas, a freqüência de lavagem de roupas. Fala-se também da economia de energia na hora de escolher uma geladeira e na rotina de uso dela, fala-se da racionalização no uso do gás. Pode também sugerir uma melhor disposição dos móveis da casa, conserto e recuperação de alguns já existentes. Tudo voltado para melhorar as condições de conforto no ambiente.

Eventuais resistências não devem ser contestadas ou repreendidas. Os motivos desse desinteresse diante da idéia de melhor organização podem ser discutidos posteriormente, quando for o caso, entre a pessoa e um terapeuta, ou grupo de terapia.

Os "5 S" ficaram conhecidos através dos programas de Qualidade Total e se referem às iniciais de 5 palavras, em inglês, relacionadas à organização pessoal e do ambiente.

GRUPO ARQUITETURA E URBANISMO - é comum também as famílias carentes solicitarem telhas, tijolos, portas ou janelas. É mais uma oportunidade para falar de organização interna e principalmente, salubridade e segurança da construção. É preciso observar se a estrutura da casa está bem dimensionada. Se existem janelas e portas suficientes para dar necessárias ventilação e insolação do ambiente. Se as técnicas construtivas estão sendo observadas. Se a privacidade mínima está sendo garantida, a funcionalidade também. Sempre lembrando a importância de se cadastrar legalmente todo o patrimônio e as obras em questão.

Assim cabe encaminhar à Sociedade um pedido de doação de material de construção ou orientação técnica.

As mudanças solicitadas que não estiverem de acordo com o Código de Obras não devem ser efetivadas.

GRUPO CULINÁRIA RACIONAL E SAUDÁVEL - a alimentação inadequada tem se constituído uma ameaça cada vez maior para a saúde pública. A obesidade está atingindo faixas etárias cada vez mais jovens. E as carências de alguns nutrientes permanecem, mesmo com o excesso de peso.

Nos hábitos alimentares do dia a dia é possível superar muitas dessas dificuldades. E ainda, otimizar os gastos com alimentação no orçamento doméstico.

É uma forma de dar maior aproveitamento ao que se recebe na cesta básica. Por exemplo, na redução do uso de óleo que, em alguns casos, permite grandes ganhos sem alterar em nada o paladar. O uso do sal e do açúcar também pode ser questionado na quantidade. A inclusão de frutas e verduras na dieta não sai cara e rende muito para a saúde, reduzindo os custos da manutenção do SUS. A opção por alimentos de época, em substituição aos de entressafra, mais caros, pode ser implementada com divulgação de algumas tabelas de preços do Ceasa. Isso sem contar sopas e outros pratos que podem ser feitos com o aproveitamento de folhas de cenoura, por exemplo, e talos de outros alimentos que, normalmente, são descartados.

Nada de novo nisso tudo. Faltam apenas orientação e incentivo para praticar.

GRUPO CONVÍVIO COM ANIMAIS DOMÉSTICOS - limite recomendável de proximidade com animais, vacinação, castração, alimentação, atenção necessária, responsabilidade diante da sujeira e do barulho dos animais, risco de ataques contra outras pessoas, direitos dos animais, legislação.

GRUPO DE PATERNIDADE RESPONSÁVEL E PUERICULTURA - Como evitar a gravidez indesejável. Cuidados para ajudar, desde a gravidez, o desenvolvimento saudável e seguro da criança. A forma de carregar o nenê, colocar no berço, como brincar, como dar banho e vestir, amamentação, calendário de vacinação.

GRUPO DE FAMÍLIA E PREVENÇÃO ÀS DROGAS - Orienta os pais e filhos, promovendo aproximação, principalmente no período da adolescência dos filhos.

GRUPO CONVIVÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA - Boa convivência social, como se relacionar com vizinhos, com colegas, conhecidos ou parentes. Como contribuir com a paz social, com o meio ambiente, com o desenvolvimento, como utilizar adequadamente os recursos e serviços públicos, como questionar seus direitos e observar deveres. Valores, ética, e outros temas também podem encontrar aqui um espaço. Mais uma tentativa de recuperar um pouco as relações individuais e sociais, tão prejudicadas ultimamente.

PREPARAÇÃO DE CONSUMIDORES - Tudo que se movimenta na Economia tem como origem a necessidade ou a vontade do consumidor. Por isso esta necessidade, e principalmente a vontade - que, por fim, determina a atitude de consumo - precisam estar equilibradas numa relação de custo/benefício.

Na visão que embasou esta proposta, a situação de carência a ser superada é considerada também uma dificuldade de gestão da economia pessoal. E o ato de consumir aparece como um dos eixos centrais da economia pessoal. Se, pelo trabalho, pretende-se ensinar como conquistar determinadas coisas, fica faltando ensinar como ter, ou então, como manter essas coisas no novo padrão de vida. Esta é a característica do consumidor bem preparado, esclarecido.

Consumir bem está se tornando cada vez mais complicado. A quantidade de ítens que vão sendo incluídos entre os bens de consumo cresce rapidamente. Forno de microondas, DVD, filmadora, máquina fotográfica digital, microcomputador, banda larga, celular muda a cada dois anos, fogão passou a ser de seis bocas, chapinha para o cabelo, tênis com tecnologias novas, ipod, videogames, isso sem entrar no carro e nos autoítens, e ainda tem vestuário, alimentação, lazer. Tudo multiplicado por um vasto espectro de marcas e modelos.

São tentações permanentes, pressões sempre presentes nos espaços de convivência social. A elas, soma-se um sofisticado e competente sistema mercadológico, que vem desde o merchandising na novela, passa pelas grandes campanhas publicitárias, envolvendo promoções e eventos e chega a um outro arriscado ítem que, se não é exatamente de consumo, é muitas vezes para consumo: o crédito.

Se comparar a extensão deste menu, hoje abrangentemente popular, com as alternativas de um nobre da Idade Média, este último pareceria um franciscano.

Talvez por isso, nos anos 70, a palavra "consumista" era a referência mais comum à atitude de consumo. E uma referência altamente pejorativa. Rejeição à uma realidade que estava se instalando de forma irreversível. A chamada "sociedade de consumo".

É verdade que o termo "consumista" não tinha nada a ver com o conceito de consumidor dos dias de hoje. O consumista seria hoje o mau consumidor, com muito poder. Mas este contraste de significados entre palavras tão semelhantes pode mostrar como a atitude de consumir foi repensada e redimensionada ao longo dos anos.

O consumidor conquistou leis e até um Código específico, varas judiciais, serviços públicos e privados de fiscalização e atendimento, espaço específico no Ministério Público, escritórios de direito especializados, departamentos nas empresas fornecedoras. Em pouco tempo o conceito de "consumidor" ganhou um status de grande importância na Sociedade. Confunde-se com o próprio conceito de cidadania. Faz sentido! Afinal, como fruir os direitos assegurados pela lei, sem praticar ordinariamente o ato de consumir?

A seguir, algumas reflexões sugeridas para o tema:

-Preparar o consumidor inclui desenvolver habilidades para lidar com os próprios impulsos diante das provocações permanentes dos apêlos de consumo. Significa dotar de ferramentas para dar eficácia ao ato de consumo, sem comprometer a agilidade que isso exige.

-O consumidor esclarecido deve lidar com estes impulsos sem tentar excluí-los, sem gerar apego excessivo ao dinheiro ou avareza.

-O consumidor esclarecido não é o consumidor reduzido em seu potencial. É alguém que consome com eficiência e eficácia, dando sentido ao esforço que empreende no dia a dia. Trabalhar e se dedicar se justifica, em grande parte, ao avanço nos padrões de consumo, tanto no atendimento das necessidades objetivas, como também das subjetivas. Até porque, ao longo do tempo, necessidades subjetivas podem passar a ter um peso objetivo.

-O consumidor deve identificar as necessidades de consumo objetivas, como alimentação básica, moradia digna, vestuário, preparação profissional, lazer. E as necessidades de consumo subjetivas, às quais ele próprio atribui valores especiais, como o atendimento dos caprichos do paladar, a compra de griffes, o carro mais novo antes da casa arrumada, as viagens longas. Essas necessidades subjetivas devem, sim, existir e serem atendidas. Porém, precisam ser colocadas depois das necessidades objetivas. E, então, lucidamente pesadas em seu custo real na vida de cada pessoa. Depois da apuração deste "custo", cada um deve ponderar qual a real disposição para dispender o esforço lícito, para atender qual tipo de capricho.

-Consumir é satisfazer caprichos. Mas é principalmente suprir adequada e equilibradamente as necessidades essenciais. Nesta questão, uma das importantes variáveis é o tempo. Os padrões de consumo seriam hierarquizados e condicionados a outras realizações, encaixadas ao longo de uma linha de planejamento. E, a cada mudança nesta seqüência, deve corresponder um novo planejamento.

-Outra variável fundamental a ser valorizada nesse contexto é a poupança. Os efeitos que ela pode produzir no padrão de consumo e na gestão da economia, pessoal ou em qualquer escala, são muito importantes.

Esclarecendo o consumidor vai ser possível formar um contingente cada vez maior, para a constituição da insuperável força da sociedade. Uma sociedade que pode alcançar o poder de fazer atender todas as demandas coletivas. Um consumo mais pragmático deve surgir. Um consumo quase engajado.

Para tanto, o consumidor pode pensar sua posição não apenas na condição de "mercado". Muitas vezes o termo é usado como sinônimo. Porém, o mercado é algo coletivo. A "lógica do mercado" é algo que pode surpreender a cada instante. Sobre a qual não se tem controle ou parâmetros mais estáveis. Já o consumidor tem raciocínio próprio. Por isso pode tentar se articular minimamente e se estabelecer como poder, e não apenas se apoiar num conjunto de direitos.

Se, ao "poder econômico" são atribuídas tantas decisões e direcionamentos, o conjunto dos consumidores é exatamente o fator gerador sobre o qual se estabelece e se justifica este poder.