AS RESPOSTAS PARA AS RESPECTIVAS QUESTÕES

A questão do desemprego mobiliza uma verdadeira indústria de soluções. Já liderou a lista de preocupações do eleitorado e agora perde para as conseqüências do próprio desemprego: a violência, a falta de saúde.

O desemprego, enquanto fenômeno social, parece que se tornou mais complexo. A ser verdade, serão necessários diagnóstico e tratamentos mais direcionados.

No número compacto da estatística do “desemprego” precisa classificar melhor quantos estão DESEMPREGADOS – são os que só não trabalham porque os investimentos no setor em que atuam não geraram vagas suficientes; quantos estão DESEMPREGABILIZADOS – não encontram emprego porque têm baixa empregabilidade; e finalmente, quantos estão DESEMPREGACIONALIZADOS – são os que apresentam um desajuste pessoal, ou vivem a sensação de uma certa “hostilidade” na relação com o mercado de trabalho.

É fácil perceber que a solução é bem diferente para cada caso.

No último caso, a forma de enfrentamento da questão parece começar na escola. Mas não pela informação, pelo ensino, como se faz para aumentar a empregabilidade. E sim pela formação, pela orientação visando um ajuste com a realidade das responsabilidades e das relações interpessoais.

Seriam necessários também investimentos públicos em saúde mental. A saúde mental referida aqui é a orientação para a solução de transtornos muito comuns entre a população em geral, que quase sempre são deixados de lado, como coisas corriqueiras ou meras “esquisitisses”. Vale lembrar que, nos Estados Unidos, a especialidade médica mais consultada é a Psiquiatria.

Agora, investir dinheiro público para capacitar TECNICAMENTE quem não está MENTALMENTE preparado para o trabalho, é um grande desperdício.

SOLUÇÕES EMPREGACIONAIS

As características específicas de "empregacionalidade", em suas várias gradações, possivelmente indicarão grupos típicos. Próximo ao limite mínimo, estariam aqueles que não procuram ou sequer aceitam empregos. Muitas vezes, um excesso de personalismo é a razão, pelo menos aparente.

Outros, com um pouco mais "empregacionalidade" até conseguem emprego, começam a trabalhar mas não avançam de acordo com o potencial que possuem. Se desentendem facilmente, enxergam sempre muitas falhas na empresa e nos colegas. Reclamam com freqüência, declaram desânimo diante da situação, não correspondem aos apêlos das reformas internas. Muitas vezes começam a faltar com os compromissos e, finalmente, se desligam ou são desligados do emprego. Entre esses níveis de empregacionalidade, outros podem ser detectados, com características peculiares.

Pela pressão social, da família ou da própria consciência, muitas dessas pessoas com baixa empregacionalidade enviam vários currículos, falam com amigos, fazem até alguns cursos, se informam e chegam a reconhecer, diante de seus grupos, a necessidade de conseguir um emprego. Mas, na prática, apresentam restrições aqui e acolá a esta ou aquela empresa, a determinada função onde seus conhecimentos pouco seriam aplicáveis, a ambientes sociais ou psicológicos, ao perfil mais presente entre as pessoas com quem vão se relacionar num local de trabalho. Têm dificuldade em aceitar a disciplina da vida de um empregado, ou os modelos de relacionamento no trato com superiores e colegas de trabalho. Não sustentam por muito tempo a perseverança em percorrer uma trajetória profissional, que começa na colocação disponível no momento, e segue em direção à posição desejada no mercado de trabalho. Têm, ainda, uma forte dificuldade para entender que, acima da inteligência, da formação e da capacidade que possuem, são aquelas dificuldades práticas que impedem, para eles, a assimilação por parte do mercado de trabalho e o desenvolvimento dentro dele. Por isso, mesmo com alta empregabilidade aparente em alguns aspectos, a baixa "empregacionalidade" estaria forçando a condição de desemprego.

A empregabilidade, pelo menos da forma como está desenhada para este País de Terceiro Mundo, parece trazer, implicitamente, restrições a muitos comportamentos típicos de mentes privilegiadas. Ou, pelo menos, não contempla qualidades de destaque dessas pessoas. A mão de obra é requisitada de forma mais enquadrada do que integrada, intensiva, rápida e descartável. E assim se vai todo um monumental investimento, tanto público como privado, no desenvolvimento de potenciais que não estão postos em pleno uso.

Embora não tenha conhecimento de uma pesquisa com dados confiáveis, não parece que os profissionais formados nas principais universidades brasileiras são os mais bem empregados. Muito menos os que revelaram melhor desempenho durante seus cursos nessas universidades. Exceção aos cursos ligados às áreas de Administração, Gestão, Comunicação e outros, onde a aplicação dos conhecimentos é mais direta no negócio, no interesse do empreendedor. Diferente do que acontece nas áreas, por exemplo, de tecnologia, onde é possível importar pacotes de conhecimento para serem simplesmente aplicados aqui.

Olhando sob alguns aspectos, no Brasil, os trabalhadores mais capacitados estariam se engajando no serviço público. Afinal, são os que enfrentam concursos disputadíssimos e comprovam vasto conhecimento. É possível que habilidades negociais e outros tantos valores indispensáveis na atividade privada - como a própria capacidade de enfrentar situações de risco - não sejam tão avaliados nos concursos públicos. Mas, sem dúvida, qualificações de inquestionável relevância acabam por reservar, através desses concursos, consideráveis contingentes de competência para o serviço público.

É mesmo desejável que a máquina pública seja movida por servidores competentes. Mas uma parte considerável do enorme contingente que fica na zona de classificação desses concursos, aguardando uma vaga, continua desempregada. E, se comprovaram estarem avançados em alguns importantes quesitos no contexto da empregabilidade, talvez não tenham colocação no mercado de trabalho pela baixa "empregacionalidade".

A tentativa de formular este conceito, ora denominado empregacionalidade, vem no sentido de dar uma dimensão social à questão, para que seja tratada nos dois lados do mercado de trabalho. Os trabalhadores devem tentar identificar seu grau de "empregacionalidade" e buscar uma posição pessoal diante da situação. Parece tratar-se de algo que demanda atitudes. Começando pela aceitação, para encarar a necessidade de mudanças, sem culpas ou comiseração, mas com fé e vontade de entender comportamentos que foram se estabelecendo ao longo do tempo.

Por outro lado as empresas devem se posicionar quanto ao real interesse em flexibilizar suas estruturas, para ajustar em seus quadros pessoas que podem oferecer contribuições muito especiais, com o respectivo retorno empresarial.

Acreditar que esta visão da questão do trabalho pode contribuir para soluções significa não acreditar na existência de "vadiagem inata". Independente do significado antropológico que esta hipótese tenha, ou psicológico, ou sociológico, ou mesmo popular, é difícil acreditar que, num Mundo como o de hoje, seja opção esclarecida de alguém viver imerso na dependência e no isolamento típicos da vida de uma pessoa desocupada. É difícil até acreditar que alguém goste de passar suas horas repetindo, dia a dia, rotinas improdutivas, que não acrescentam quase nada ao intelecto e até às emoções. É verdade que muitos empregos também acrescentam muito pouco. Mas representam remuneração. E, a simples presença no mercado de trabalho, abre perspectivas de empregos melhores e até, como prevê a democracia, posicionamentos e mobilização em busca de avanços setorias e conjunturais.

É, portanto, mais fácil acreditar que a reação de isolamento, de evitação do emprego, seria reflexo de fragilidades pessoais de alguma ordem, que possivelmente não vão se desfazer sozinhas ao longo do período ocioso. A aparente preferência pela ociosidade, confessada abertamente em alguns casos, seria antes uma forma de dissimular as verdadeiras razões de estar desempregado. Quem sabe até esconder de sí próprio. Precisam, então, de atenções especiais. E, talvez, durante o período inicial dessas atenções, nem precisem abrir mão da integração à realidade presente, que exige de todos atividade sistemática, disciplinada, produtiva, de interesse reconhecido por remuneração e eventuais benefícios. Ou seja, possivelmente possam estar assumindo um emprego o quanto antes.