A idéia de desconsumo difere do que se entende por consumo consciente porém, é plenamente compatível. O consumo consciente se refere à escolha do consumidor quanto ao seu padrão pessoal de consumo e às práticas associadas às marcas que vão merecer sua preferência. Já o desconsumo, como segmento de atividade econômica, pretende produzir a compensação possível a partir de alguma prática pessoal, como a separação de recicláveis, potenciais matérias primas da indústria do desconsumo.
Ao longo do tempo, o que se espera, é que esta indústria não se estabeleça sob grandes contrastes entre consumo e compensação. Não é propósito gerar a ilusão de que grandes impactos ambientais podem, sistematicamente, ser atenuados a contento por uma indústria compensatória. O desejável é que mais e mais práticas de produção avancem numa sustentabilidade própria.
No entanto, em determinados casos, como na indústria de embalagens, a atividade de desconsumo deve merecer crescentes investimentos. Para os bens duráveis, como equipamentos eletrônicos domiciliares, eletrodomésticos, roupas, calçados e tantos outros, a indústria do desconsumo deve pesquisar formas economicamente viáveis de aproveitamento. Afinal, uma estratégia de rápida obsolescência parece implantada, reduzindo a durabilidade desses bens e, em conseqüência, aumentando o descarte. Por outro lado, iniciativas como a manufatura reversa já surgem entre as empresas.
Com a proposta de se estabelecer como segmento industrial, o desconsumo deverá buscar suas próprias metas de sustentabilidade e eficiência, de forma a aumentar o denominador no balanço energético da respectiva cadeia de consumo. Deverá gerar novas tecnologias, novas aplicações para seus produtos e novos postos de trabalho, notadamente por estar quase vocacionada ao uso de matérias primas de custo próximo a zero.
A indústria do desconsumo deve ter, como produtos finais, bens que estendam por mais tempo o uso de parte considerável da matéria prima (artesanato, por exemplo), ou então novas matérias primas, ou derivados prontos para reintegração na Natureza (degradação) ou ainda energia. Nesta seqüência outras etapas podem se interpor, estendendo ao máximo a disponibilidade dos compostos da matéria prima inicial para uso na produção em geral. Com o mínimo consumo possível de energia.
Na medida que surjam tecnologias para tal, deverá reintegrar o composto à Natureza o mais rápido possível (degradáveis), desde que se comprove objetivamente o ganho energético. O uso dos resíduos para geração de energia, através da combustão, possivelmente será a última alternativa.
Essa integração de atividades, como segmento industrial, pode justificar linhas específicas de crédito e abordagem diferenciada para atender não apenas as demandas meramente empresariais, mas também os reflexos sócio-ambientais que esta indústria pode produzir.
A distribuição de refrigerantes, citada como exemplo, tinha no sistema anterior, aspectos de sustentabilidade. Não atirava milhões de embalagens mensalmente nos aterros sanitários. Gerava empregos até nos grandes supermercados, onde os "cascos" eram realocados. Porém, gerava altas demandas energéticas no transporte de retorno das embalagens de vidro, no processo de lavagem delas. Não conheço estudos objetivos sobre qual dessas cadeias de distribuição é menos impactante. Porém, diante da realidade que se impõe, a indústria do desconsumo tem hoje a missão de alcançar um equilíbrio compensatório para situações desse tipo.
A categorização pretendida de "indústria" vem do reconhecimento da escala necessária para fazer frente à demanda. Embalagens e mesmo os bens duráveis são produzidos em escala industrial e, cada vez mais cedo, chegam aos aterros sanitários ou são simplesmente descartados no ambiente. As ações de conscientização, como são chamadas, parecem estar alcançando maior retorno promocional do que o necessário retorno ambiental para a sociedade. Sem dúvida, a conscientização é uma etapa indispensável porém, a essa altura dos acontecimentos, é necessário ampliar dezenas e dezenas de vezes o tratamento separado de materiais recicláveis.
Os gestos de promoção da conscientização têm como efeito a reflexão, a parte anterior à ação. As atitudes decorrentes estão muito longe de render o bastante. Com a indústria do desconsumo espera-se também a geração de muitos postos de trabalho, de negócios que dinamizem e incentivem a atitude de desconsumo. Quem não estiver nas indústrias relacionadas diretamente ao consumo, pode acabar encontrando uma outra oportunidade na indústria do desconsumo.
O foco desta indústria no consumidor, através desta nova denominação, se prende ao fato de que, sem a iniciativa de retorno do consumidor na ação de consumo, dificilmente vai ser possível aumentar significativamente o volume de material para a devida reciclagem.
É desejável que, dentro de uma perspectiva de crescente consciência no consumo, cada um procure conhecer o "valor agregado de cidadania" à cada marca e produto.